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Ecologia

Linha de Pesquisa 2 - EmF

No sentido de questionarmos o abismo que habita entre a sensação que temos do mundo e a ideia que fazemos dele, seguindo o pensamento do filósofo Slavoj Žižek, e buscarmos uma experiência sensorial do mundo como uma parte da nossa realidade, é que criamos a linha de pesquisa ecologia, no grupo Educação em Fronteiras. Como cerne deste questionamento e busca, decidimos optar pelo estudo transdisciplinar e transcultural do conceito espaço (lugar + tempo), via o encontro. Este estudo contempla os encontros, nestes momentos de múltiplos confrontos, desenvolvendo-se com um olhar ontológico sobre as fronteiras de todo e qualquer encontro – orgânico e inorgânico. Aqui, o termo ecologia funciona como um antídoto às práticas neoliberais que ofuscam as verdadeiras dimensões da ameaça ecológica como, por exemplo, a manutenção da ignorância, a ciência enquanto uma ferramenta de salvação ou mesmo a responsabilidade individual dos sintomas locais em detrimento das resoluções sistémicas dos problemas globais. Assim, o conceito de ecologia reconstrói-se como uma alternativa à atual posição que este campo do conhecimento habita – autocorretivo, auto controlável e auto curador, passando a ser não apenas o estudo do meio ambiente e dos seus seres vivos, como também o estudo do encontro do imperceptível às grandes políticas, às lutas sociais ou mesmo às formas mais elementares de experiência via a desconstrução de nossas próprias convicções.  Dentro desta linha o conceito de urbanidade é compreendido como eixo normalizador dos ecossistemas presentes no planeta, estando este intrínseco à relação entre os valores econômico e político da biodiversidade e a alteridade da espécie humana.

A historicidade do ser humano, em suas múltiplas vertentes (i.e., social, política, econômica, cultural, geográfica, educacional, afetiva, etc.), compõe este estudo em um exercício dialógico com os fatos experienciados e sentidos por todos os membros da linha, abrindo-a a todos os interessados. Objetivamos estar juntos, partilhar e aprofundar conhecimentos advindos de estudos nas mais diversas áreas bem como de práticas desenvolvidas enquanto pesquisadores com diferentes formações e vindo de diferentes contextos de vida. Como o sociólogo Sal Restivo, aqui compreendemos a ciência enquanto instituição social e, com isso, assumimos nossa postura interna para, também, estudarmos nossa própria ecologia.

A construção de uma cartografia do encontro é o método inicial que propomos para, coletivamente, desenvolvermos os conceitos de espaço e tempo face a ecologia proposta. A construção de uma cartografia do encontro pode iniciar-se como um “mergulho” nas fronteiras dos encontros vividos em um trajeto planetário, holístico, e nos afetos produzidos no tempo e no espaço. O processo de construção deste conceito já será, em si, um contributo inovador em termos de produção científica. Os temas a abordar serão diversos desde a discussão do conceito de fronteira, as várias formas de fronteira e como elas se inscrevem na urbanidade, bem como a forma como condicionam a fruição desse espaço por questões de poder, económicas, culturais ou outras.

Um tema a desbravar em busca de trazer todo e qualquer conhecimento para o cerne da matriz da inteligibilidade humana, questionando hierarquias intelectuais e as suas relações com a falta de dignidade na vida que habitam o nosso planeta.  Sim, o nosso planeta, o planeta de todos os animais, de todos os minerais, de todas as plantas, de toda a forma de vida animada e inanimada. Nesta linha de pesquisa, o resgate pela compreensão da nossa interdependência com todas as formas de vida e da natureza não como algo em si – acabada e harmônica,  mostra-se transversal a todos os membros que a constituem.

A desmistificação de que a exclusão ou extermínio de qualquer forma de vida é um ato dado poderá ser entendida como eixo de intersecção das nossas questões de pesquisa. Neste estudo dos encontros as diferentes formas de violência são abordadas bem como as diferentes formas de amar. A construção de uma cartografia do encontro é o método inicial que propomos para, coletivamente, reconstruirmos o conceito de ecologia. Começámos este exercício na construção da própria linha de pesquisa, em seu próprio processo de construção, o qual optou por um formato bottom-up intracomunitário e servirá de alicerce tanto para o seguimento coletivo participativo do estudo proposto como para o autoestudo desta linha. Porém, em paralelo, outras ferramentas para alimentar nossas buscas, que estão abertas e cedente do novo, surgirão. Vivemos em um momento onde o novo não pode nascer, onde a infertilidade intelectual revela-se como uma arma de opressão.

Temos uma reunião mensal que permite, via internet, estarmos algumas horas no mesmo espaço e tempo sentindo nossas próprias fronteiras e, a partir da nossa diversidade buscar uma unidade aberta – não harmônica, em nossos estudos. No período entre os nossos encontros efetivamos estudos locais, ampliamos nosso campo de discussão entre novos pares, desenvolvemos projetos que serão o contributo para os estudos da linha, entre outras atividades.

A criação de metodologias próprias também fazem parte dos nossos sonhos e juntos com os membros das outras linhas do EmF fortaleceremos o desenvolvimento de metodologias bottom-up, nas quais a participação de todos os stakeholders envolvidos na pesquisa seja proativa, constitutiva e crítica – desde a sua concepção até sua análise, disseminadora e emancipadora, que possa renascer com cada dos stakeholders em outros sistemas onde os mesmos atuem. Um movimento de abertura, de respeito às transformações sem perder o foco da pesquisa académica.

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